O QUE SOMOS SEM PASSADO?

O QUE SOMOS SEM PASSADO?

HINO DE ITAPETIM-PE

sábado, 20 de novembro de 2010

PARA PREFEITO ANTÔNIO PIANCÓ SOBRINHO - 1963


Em 1963 eu já estava cursando o 3º ano ginasial, no Colégio Normal São José, da vizinha Cidade de São José do Egito, juntamente com minha irmã, mais velha, Bernadete (Beta).
Era uma jovem adolescente de apenas 14 anos de idade que já conhecia a vida política da minha terra natal, Itapetim.

 Desde 1949, ano em que nasci, o meu inesquecível pai já participava ativamente da política local, tendo sido membro atuante no seu Partido, o Partido Social Democrático - PSD, e vereador por duas legislaturas - 1955 - 1959.

A Minha casa paterna era uma extensão da sua vida política, no sentido de que ele sedimentou uma amizade verdadeira com os seus correligionários e a conservou até os últimos dias da sua vida.
Jamais construiu inimigos, tinha adversários, inimigos, jamais! Não da parte dele, porque se alguém se investiu  dessa condição de ser seu inimigo, o foi solitariamente. porque ele sempre foi partidário de uma filosofia de vida onde no seu coração não havia lugar para para ódios nem ressentimentos.

Política é a arte de somar, dizia ele. E gostava de dizer que aprendeu isso com o Mestre Walfredo Siqueira, do qual foi discípulo.

Quantas vezes como adolescentes, na nossa irreverência, trouxemos para casa conversas desagradáveis advindas de críticas dos adversários e ele nos proibia veementemente de repetir aquelas histórias, porque segundo ele, se brigássemos com o adversário perderíamos definitavamente a chance de conquistá-lo para o nosso lado.
Assim nos criamos, respeitando o adversário político, subindo em palanques para levar a nossa proposta, indiferentes a quaisquer ataques e provocações. 

Certa vez, estacionamos o nosso carro no jardim da nossa casa que é vizinha a casa paroquial. à época era o Pe Viana o Pároco da nossa Igreja. Ao ouvir o barulho do carro ele veio apressado em nossa direção:

- Minha filha, não estacione seu carro aí, coloque na garagem, pois os passarinhos dessa árvore da casa do Pe. estão "cagando" e desgraçando a pintura.
Ao que eu retruquei:
- Pai, peça ao Pe. para poldar a parte que dá para o nosso jardim, é um direito seu e uma obrigação dele.
Ele respondeu:
- Eu já pedi, mas o Pe. não me atende, não quero confusão, ponha o carro na garagem e fica tudo resolvido.
Assim fizemos.
O Pe. Viana àquela época estava politicamente rompido com meu pai, por isto não teve interesse em mandar poldar aquela árvore.
Tempos depois ao voltar a Itapetim, quando entramos no jardim eu me lembrei da história dos passarinhos do Pe. e pedi a Carlos (meu marido) que colocasse o carro na garagem, para não manchar a pintura com o cocô dos passarinhos.
Mas meu pai se adiantou e disse:
- Não, deixe o carro aí mesmo!
Então eu perguntei: 
- Por que? o Pe. poldou a árvore? Ele respondeu:
-Não, mas os passarinos do Pe. não cagam mais (Ele tinha conseguido trazer o Pe. para o seu Partido) rsss
vamos acabar com essa conversa, passarinho de Pe. não caga e ponto final, kkkkkkk
Era de uma leveza sem igual.

A sua candidatura a prefeito do município, teve o respaldo de Pe. João Leite de Andrade, o maior chefe político da minha terra e do seu amigo e sócio Walfredo Paulino de Siqueira, à época, a maior expressão política do Pajeú. Mas foi também pelos seus próprios méritos, pelo trabalho que desenvolveu em prol da sua terra, desde os primórdios quando ainda era Vila, pertencente ao Município de São José do Egito, e sem ser preciso que eu relate, pois foi documentada a sua presença em todos os esforços para promover a emancipação da nossa terra.

Ainda hoje, não me cabe no peito, o desgosto de ver um filho da terra escrever em um livro chamado "Cabeça do Pajeú", que a candidatura do meu pai surgiu "pela mão protetora de Walfredo Siqueira que o ajudou junto ao Pe. João Leite, que a estas alturas já estava comprometido com este até o pescoço".

Diz ainda, este livro, referindo-se as eleições de 1963, que "Antônio Piancó, era filho de um agricultor, sem muita influência politica". 
Santa ignorância sobre a vida do meu inesquecível pai! Quando o seu pai faleceu, de um desastre automobilístico, Antônio Piancó era uma criança, ele ficou orfão com 15 anos. 
O meu avô, João Inácio de Lima, não tinha muita, nem pouca, nem nenhuma influência política, pois perdeu a vida com 39 anos de idade no ano de 1935. Como poderia meu pai se respaldar na influência política do seu pai que tinha perdido a vida há 28 anos atrás?

Certamente quem mandou escrever este livro trazia no seu coração um sentimento de vingança, de ódio e, sobretudo, de desrespeito aos mortos, sim , porque quando foi publicado, meu pai já havia falecido.
Se bem que o fato dele já ter falecido, não muda muita coisa, porque, se vivo estivesse, jamais responderia aos seus desafetos,  trazia consigo uma enorme capacidade de perdoar ofensas.
Ainda bem que a lei do retorno existe, mesmo que não desejemos que ela se cumpra, quem cometeu esta maldade, para sujar a vida pública de quem tanto amou a sua terra, a sua gente, já deve ter colhido de volta o que plantou.
Deixemos este assunto que não merece destaque, pela natureza da sua covardia, e passemos a postar a ata da reunião da Diretoria do Partido ao qual meu pai era filiado e que através dele lançou a sua candidatura.

CÓPIA AUTÊNTICA DA ATA DA REUNIÃO DO DIRETÓRIO MUNICIPAL DO PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO DE ITAPETIM, ÀS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 18 DE AGOSTO DE 1963


Aos (30) dias do mês de junho do ano de mil novecentos e sessenta e três (1963) as (16) dezesseis horas, nesta cidade de Itapetim, no prédio onde funciona o Diretório do PSD, à Rua Agamenon Magalhães nº 26, reune-se a Diretoria do Partido Social Democrático, deste Município, mediante prévia convocação por edital, com a presença dos Senhores:

Simão Leite Ferreira
Antônio Piancó Sobrinho
Antônio Lopes Sobrinho
Antônio Correia Sobrinho
Oliveiros Ferreira de Albuquerque
Antônio Vieira de Farias
Joaquim de Fonte Rangel
João Nunes de Maria
João Ferreira Sobrinho
Agostinho Pereira de Vasconcelos
Manoel Nunes de Oliveira
João Amaro Sobrinho
Alberto Nunes da Costa Dias
Antônio Herculano de Siqueira
Augusto Ferreira Guimarães
Pedro Vieira de Farias
João Ranfel de Araújo
Lucas Ricardo de Sousa
Adolfo Gomes Meira e
José Francisco dos Santos

Sob a presidência do Sr. Simão Leite Ferreira, e secretariado por mim, José Francisco dos Santos.
Nesta ocasião o Sr. Presidente da reunião explicou aos diretorianos presentes, bem como ao grande número de correligionários a fina lidade da reunião que tinha por objeto a ESCOLHA DOS CANDIDATOS DO PARTIDO ao pleito de 18 de agosto próximo aos cargos eletivos de Pefeito do Município, Vice-Prefeito e Vereadores à Câmara Municipal.

Pelo diretoriano Simão Leite Ferreira, Prefeito deste Município, foi feita a indicação dos seguintes nomes:

Para Prefeito: Antônio Piancó Sobrinho
Para Vice-Prefeito: Agostinho Pereira de Vasconcelos
Para Vereadores:
Raimundo Ferreira do Nascimento
Simão Leite Ferreira
João Amaro Sobrinho
Antônio Piancó de Lima
José Francisco dos Santos
Oliveiros Ferreira de Albuquerque
Enelian Alexandre de Lima
Raimundo Alves de Siqueira
Inácio Alves de Oliveira
Benedito Formiga da Silva
José Severino de Araújo e
Antônio Correia Sobrinho

Após a indicação o Sr. Presidente passou a colher os votos dos diretorianos presentes, obtendo-se a indubitável unanimidade a favor da indicação acima mencionada, ficando assim homologada a chapa do Partido para o pleito de 18 de agosto próximo.
Feito isto, o Senhor Presidente da reunião recomendou ao Delegado do Partido a tomar as necessárias providências no sentido de ser feito o registro na Justiça Eleitoral dos referidos candidatos.

Em seguida sob os aplausos dos presentes o Sr. Presidente concedeu a palavra a quem dela quisesse fazer uso. Sendo então ouvidos os seguintes oradores:

Geraldo Alves Ferreira, Antônio Correia Sobrinho, José Francisco dos Santos e Antônio Piancó Sobrinho.
Todos os oradores foram insistentemente aplaudidos, numa demostração inequívoca de confiança na vitória dos candidatos apontados para o pleito de 18 de agosto.

E como nada mais havendo a tratar e niguém mais quisesse fazer uso da palavra, o Senhor Presidente determinou que fosse lavrada a presente ata, depois de lida e aprovada por unanimidade dos diretorianos presentes.
Feito isto, eu, José Francisco dos Santos, Primeiro Secretário do Diretório Municipal, escrevi a presente que vai assinada por mim e pelos demais presentes. Logo após o Sr. Presidente encerrou a reunião

Itapetim, 30 de junho de 1963 - José Francisco dos Santos - Primeiro Secretário

Simão Leite Ferreira
Antônio Lopes Sobrinho
Antônio Correia Sobrinho
Oliveiros Ferreira de Albuquerque
Antônio Vieira de Farias
Raimundo de Fonte Rangel
João Nunes de Maria
João Ferreira Sobrinho
Agostinho Pereira de Vasconcelos
Manoel Nunes de Oliveira
João Amaro Sobrinho
Alberto Nunes da costa Dias
Antônio Herculano de Siqueira
Augusto Pereira Guimarães
Pedro Vieira de Farias
João Grilo
Lucas Ricardo de Sousa
Adolfo GomesMeira


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Obs: Como eu gostaria de ter esses discursos gravados, assim teríamos a grande oportunidade de ouvir a palavra desses oradores. Sem sombra de dúvida, ninguém jamais ousaria escrever que a candidatura de Antônio Piancó foi imposta e não, aceita da maneira como está descrita nesta ata oficial, que registra esse glorioso dia para o meu pai, pelas mãos do seu velho amigo José Francisco dos Santos.

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Meus prezados conterrâneos:

Com o compromisso de jamais faltar com a verdade, pretendo relatar, neste espaço, os momentos políticos do meu saudoso pai. Em respeito a ele e a história da minha terra, manter-me-ei fiel a esse compromisso.
Obrigada, amigo, pela sua atenção.